Dia 21 de Junho, é o dia Europeu da Música e por isso preparamos uma entrevista muito especial com o Dj RSilva (Ricardo Silva) e a Íris (Alice), parceiros na vida, na dança e na música.
Como é que a dança entrou na vossa vida?
Alice: Adoro dançar desde que me lembro de ser gente, na verdade. Mas “oficialmente” comecei aos 7 anos no ballet, aos 13 nas Danças de Salão de competição e após um interregno durante a faculdade, descobri as danças sociais em 2015 e estou viciada desde então.
Ricardo: Pela mão da Alice, em 2015. Apesar de nos conhecermos há muitos anos, reencontramo-nos em 2015, e ela fez o convite. Eu aceitei. O resto é história.
Quando é que a música se tornou importante para vocês?
Alice: Sempre foi! A par da dança, a música sempre foi crucial para mim e tive oportunidade de fazer formação no Conservatório de Música de Águeda e sou uma grande apaixonada por Jazz. Mas a verdadeira ligação entre estas duas paixões aconteceu na primeira noite em que ouvi o DJ Hugo Leite no Muxima. Nunca vou esquecer essa noite porque foi quando comecei a descobrir a riqueza que havia na salsa e que, com a liberdade da improvisação das danças sociais, podia fazer brincadeiras com a música.
Ricardo: Acho que sempre foi. Talvez durante bastante tempo de uma forma inconsciente, mas desde cedo, da minha adolescência, que havia uma paixão pela pesquisa de música, e conhecer mais e mais música. Encontrei o rock progressivo aos 16 anos, e foi a minha primeira paixão. Durante a faculdade andei bastante virado para o indie rock e (alguma) música eletrónica. Com 25 anos, encontrei a minha paixão nos ritmos latinos.
Ricardo, onde te formaste como dj e qual a importância de teres aprendido nessa instituição?
Ricardo: Desde cedo que sempre tive contacto com o que é o djing. Tenho dois grandes amigos de infância que se tornaram djs, e eu sempre acompanhei o seu percurso, seja em sessões caseiras no início, como posteriormente em festas e eventos. Apesar de ter tido uma fase bastante virada para a música electrónica, acho que o impulso para estar do lado de lá da cabine nunca surgiu. Gostava de estar do outro lado. Curiosamente, mais maduro, quando descobri os ritmos latinos e os ambientes dançantes associados, encontrei na dança uma paixão também. A música latina foi entrando, e aos poucos percebi que precisava de experimentar o que era estar do outro lado. A minha primeira formação de dj foi com o DJ Hugo Leite, no Muxima, em 2017. Desde então tenho partilhado várias experiências e ideias com outros djs e conhecedores de música latina, o que tem enriquecido o meu percurso. Fiz também vários cursos de musicalidade e de produção musical, de forma a crescer como profissional.
Conta-nos um pouco da tua trajetória nesse campo: cursos, estudos, pesquisas e etc.
Ricardo: Depois da primeira “aventura” com o DJ Hugo Leite, tive várias sessões com vários amigos dj’s onde aprendi também um pouco fora do espectro das afro-latinas. A verdade é que fui-me apercebendo que a minha paixão estava aqui no mundo afro-latino, em ver as pessoas dançar as músicas que escolhia, a forma como “as guiava”, e como geria a noite. À medida que vou colocando música pelos diferentes espaços que vou passando, todos os dias procuro aprender e saber mais. Não há duas noites iguais, e é bom olhar para trás e perceber alguns dos erros que fui cometendo, e perceber o quanto evolui. É uma aprendizagem contínua. Onde dedico a maior parte do meu tempo é sem dúvida, na pesquisa musical. É uma sensação incrível ver alguém na pista a delirar com os temas que vamos partilhando durante as nossas sessões. Adoro também quando me vêm pedir nomes de músicas que passo, é sinal que estão ligados com a música e que lhes despertou interesse. Não há melhor do que isso para mim, sentir os bailarinos envolvidos com a música.

Como avalias as oportunidades de pesquisar música no país hoje?
Ricardo: Hoje em dia a pesquisa é bem mais fácil. As plataformas que temos disponíveis assim o permitem. No início pode parecer assustador, porque o mundo da música é (quase) infinito. Posso viver 1000 anos e não ia conseguir descobrir tudo. É parte da magia. Qualquer dia posso ser surpreendido com um novo tema que descubro, e guardo para partilhar com os bailadores na próxima sessão. Eu pessoalmente acredito imenso na partilha. E essa partilha levou-me a conhecer e a partilhar música com várias pessoas no mundo. Tenho um grande amigo no México, outro na Turquia, outro na Alemanha… Essa partilha levou-me a conhecer essas pessoas, e enriqueceu o meu conhecimento. Acredito a 1000% nisto. Não me agarro à música que encontro, porque há tanta música ainda para descobrir. A partilha é o foco, para chegarmos a mais pessoas e fazermos crescer esta cultura que nos apaixona.
Quais são os maiores desafios enquanto dj?
Ricardo: Bem, o maior desafio do dj é lidar com as noites “menos boas”. Quando a pista está completamente cheia e os bailadores cheios de vontade de dançar, ajuda. Agora numa noite mais parada conseguir gerir e por as pessoas a mexer, e tornar a noite o melhor possível é mais complicado. É um grande desafio, e acho que todos temos de passar por isso para aprendermos como lidar com esse tipo de situações.
Quais os momentos mais marcantes no teu percurso enquanto dj?
Ricardo: É uma pergunta difícil. Mesmo antes da pandemia começar, tive a oportunidade de partilhar a minha música na maratona de salsa em Istanbul, a convite do Deniz Seven. Foi uma experiência inesquecível. Passar música no DNA Salsa Weekend também foi uma grande experiência. E, como se costuma dizer, “a primeira vez nunca se esquece” pelo que recordarei sempre a primeira vez que passei música, no Lustre em Braga, a convite do Ricardo Abelhas, da Sandra Nogueira, e do Rui Fernandes. Ser-lhes-ei eternamente grato por me terem dado a minha primeira oportunidade.
Quais os djs que te inspiram? E como te influenciaram?
Ricardo: O DJ Hugo Leite foi uma grande inspiração quando comecei. Ainda hoje o é. Identifico-me muito com o seu estilo eclético, onde me revejo. Ao longo destes anos tive oportunidade de partilhar cabine com outros djs, e também de dançar ao som de muitos outros, e neste momento os DJ’s que mais me impressionaram foram o DJ Sergio Ribeiro (França), DJ Patrick El Clasico (Suiça), o DJ Dmitri Matalka (Alemanha), e o DJ Paolo Caonimaori (Grécia). Posso dizer que estou desejoso de ouvir uma sessão completa do DJ Paolo. Aprendi imenso com ele. Além deles, destaco o DJ York (na bachata). Alia o seu conhecimento, a um estilo eclético e variado, e sempre com muitos up’s and downs. Revejo-me muito no estilo dele. Ao ouvir estes djs (e muitos outros) aprendi imenso. Foram influenciadores da forma como passo música. Seja pela qualidade da música que passam, seja pela forma como gerem a pista, seja pela energia que conseguem dar à pista. Gosto de pensar que de cada sessão que ouço tiro um bocadinho para mim, para aquilo que é o meu set, e aquilo que tento trazer para quem está na pista.
Alice, e a ti?
Alice: Para mim, enquanto social dancer, os DJs que mais me motivam a dançar e que fazem esta paixão crescer constantemente, são os mesmos que o Ricardo referiu. Isto porque temos tendência a valorizar as mesmas coisas num social e acreditamos a 1000% que a música influência como te sentes quando danças pelo que, a meu ver, o DJ que está nessa festa é decisivo para eu ir ou não.
Qual a vossa música preferida e porquê?
Alice: Acho que posso responder pelos dois quando digo que é impossível termos uma música preferida. Ambos temos um gosto eclético pelo que tanto gostamos de música mais clássica e tradicional como gostamos de fusões, de timba e de remixes por isso fica difícil escolher “a música”. Mas no vídeo de apresentação desta música escolhemos algumas músicas importantes para nós e em baixo vamos explicar porquê.
Como se iniciou o vosso projeto de covers/remixes de Bachata?
Ricardo: Há dois grandes culpados para termos começado este projeto: o coronavírus e o DJ Dimen5ions. Estávamos fechados em casa e o DJ Dimen5ions lançou um curso online de iniciação à produção de remixes. Sempre tive alguma curiosidade, e foi a oportunidade ideal. Sempre fui um seguidor do trabalho dele, e considero-o um dos melhores produtores de bachata no momento. A verdade é que durante o curso a Alice começou a ajudar-me, dada a sua formação musical. Foi aí que percebemos que havia a oportunidade de começarmos uma “brincadeira” juntos.
Alice: Quando o curso acabou, o DJ Dimen5ions desafiou-nos a fazer um remix e começamos, por carolice, a trabalhar no “Run to You” e depois de muitas (muitas mesmo…) horas, pedimos-lhe feedback e a reação dele é que nos deu a força que precisávamos para agarrar a ideia e pôr mãos à obra.
Comentem sobre o vosso processo de criação.
Alice: De uma forma geral e sucinta, tudo começa com a escolha da música original. Depois arranjamos a acapella (só voz) dessa música e tudo o resto é criação nossa. A primeira coisa que fazemos sempre juntos é um esboço da estrutura da música (ou seja, identificar o verso e o refrão e decidir se queremos alguma secção mais para sensual ou para solo de guitarra, por exemplo). Nesta fase dançamos muitas vezes a música para sentir o que gostávamos, enquanto social dancers, que a música tivesse em determinada parte e fazemos um esboço dos bongos e da guira (visto que estas têm ritmos diferentes consoante as secções da música). Depois habitualmente começo por fazer um esboço do baixo com estrutura de bachata para começarmos a ter o feeling. Depois disso começam a surgir outras ideias e acrescento outros instrumentos como sintetizadores, violinos… bem… o que Ricardo me deixar, na verdade (risos).
Ricardo: A fase seguinte é pensar nos efeitos. Depois de muitas experiências, quando achamos que a música está quase completa enviamos para o guitarrista (temos trabalhado com o Xavier MasVidal, que já trabalhou com vários artistas de bachata), com quem temos muito muito orgulho de poder trabalhar porque, além de ser um brilhante guitarrista de bachata, já tem muita experiência pelo que é uma aprendizagem constante com ele. O Xavier faz-nos sempre a segunda, a guitarra responsável pelo ritmo da bachata, e cada vez mais faz-nos também o requinto, a guitarra principal. Em algumas músicas também foi o Xavier que fez o baixo.
Alice: Quando recebemos as guitarras do Xavier é sempre uma emoção porque, por mais que imaginemos na nossa cabeça e façamos esboços com guitarras “feitas por nós”, o verdadeiro sabor da guitarra do Xavier transforma sempre as músicas.
Ricardo: Verdade. Depois de ouvirmos tudo o que o Xavier nos envia, escolhemos o que gostamos mais e juntamos ao projeto. Inclusive já nos aconteceu temos que rever a música toda porque surgiram outras ideias. Depois começamos o processo de mixing e mastering que habitualmente fica mais do meu lado. Durante este processo, como gostamos sempre de experimentar coisas novas, muitas vezes vamos consultando o DJ Dimen5ions, com quem continuamos a fazer formação, e outros DJs amigos com quem temos o gosto de aprender muito também, como é o caso do DJ Cupidz.
Que fatores é que pesam nas vossas criações?
Alice: A escolha da música é, habitualmente o mais complexo porque a maior parte das pessoas se não gosta da música original também não vai gostar do remix/cover e vice-versa por muito bom que o trabalho de produção seja. Por outro lado, habitualmente a primeira que chega às pessoas é a que vai ser mais ouvida, por isso, a nível internacional existe uma competição para ver quem é o primeiro a lançar as músicas depois do original sair. Naturalmente, como ainda estamos a aprender, não queremos “competir” com ninguém pelo que começamos por escolher músicas mais antigas, e que ainda não existam em bachata (o que é cada vez mais difícil).
Ricardo: O processo da escolha da música pode parecer bastante simples, mas na realidade é um pouco mais complicado do que parece. A estrutura da original tem que permitir enquadrar-se numa bachata. E não, não é só ter um compasso quaternário. Além disso, há que ter em atenção a velocidade da música (bpm), a forma como o(a) cantor(a) canta, o número de acordes, etc.
Alice: Outra coisa que para mim pesa no processo criativo é se nos dá oportunidade de trabalhar com outros músicos. Atualmente, além do Xavier, já tivemos oportunidade de trabalhar com o cantor Pedro Gomes, o saxofonista Tiago Martins e o guitarrista Stephane Vale em músicas que iremos partilhar em breve. É um desafio ainda mais enriquecedor porque podemos partilhar muitas ideias e todo o processo fica mais interessante pelo que aprendemos imenso. Neste contexto de partilha, adoro também trabalhar em músicas que nos foram sugeridas. A última que lançamos, por exemplo, “A quien quiera escuchar” foi-nos sugerida pelo Felipe, do “Felipe y Tiago” e a emoção de partilhar com ele o resultado final é indescritível.
Quais os projetos que estão a trabalhar atualmente e algum projeto futuro que desejem referir?
Alice: Ui…. Eu estou mortinha para contar tudo, mas isso ainda não podemos (risos). Neste momento temos 4 remixes prontos para lançar, apenas falta concluir os videoclips. Estes vão ser todos de estilos diferentes e, como referi há pouco, tivemos oportunidade de trabalhar com outros músicos. Neste momento estamos a trabalhar noutro cover e temos algumas ideias para mais remixes.
Ricardo: Na realidade, o facto de não haver sociais a decorrer neste momento tem pesado na nossa decisão de não lançar todos os trabalhos. Temos sido cautelosos no lançamento dos mesmos, e iremos continuar a fazê-los, porque o nosso objetivo é que cheguem aos sociais, e neste momento não faz sentido. Por isso temos apostado em ir lançando pouco a pouco, e vamos ver quando teremos oportunidade de voltarmos aos sociais. Acredito que nessa altura os nossos trabalhos saiam aquando da sua conclusão.
Têm lançado os vossos remixes/cover sempre com um videoclip oficial. Porque decidiram fazê-lo?
Alice: Para nós, a música existe para ser dançada e acreditamos em parcerias. Por isso começamos com o intuito de partilhar também o trabalho de dançarinos nacionais, assim como locais muito bonitos do nosso país.
Dançarinos com quem gostariam de colaborar?
Ricardo: Se gostarem do nosso trabalho, já é mais que suficiente para gostarmos de colaborar com eles.
Alice: Eu gostava de colaborar com todos (risos). Mas é como o Ricardo diz, gostamos de colaborar com quem gosta e valoriza o nosso trabalho. Partilhar a nossa paixão e sentir o retorno é o mais importante, sinceramente.
O Ricardo é o DJ RSilva e, Alice, porquê o nome Íris?
Alice: Bem… para ser 100% sincera, inicialmente eu não queria que o meu nome aparecesse porque a ideia no início era eu só ajudar o Ricardo. Mas na verdade comecei a gostar muito de todo este processo e, como foi uma forma de me voltar a conectar com a música e com o meu lado criativo, comecei a envolver-me e a investir cada vez mais. Mas, com o tempo sentimos que fazia todo o sentido, e tive que pensar num nome artístico. Desde 2009 que o arco-íris tem um simbolismo muito importante na minha vida pessoal e é para mim sinónimo de força, resiliência e positivismo. Neste processo descobri que Íris é a deusa grega mensageira entre os deuses e os humanos e o Arco da Íris é o que fica como seu “rasto” quando esta entrega mensagens, por isso senti que “Íris” fazia todo o sentido.

Quem desejar colaborar convosco, como podem entrar em contacto?
Ricardo: Basta enviarem-nos uma mensagem, nas nossas redes sociais. Desde que haja vontade de trabalhar, nós estamos aqui!
E por último, o que a dança social significa para vocês?
Ricardo: Uma forma de vida. Mais palavras para quê? 😊
Alice: Subscrevo!
Se ainda não conheces o trabalho do Dj RSilva (Ricardo) e da Íris (Alice) corre para as redes sociais, Facebook, Instagram e Youtube para conferires os trabalhos maravilhosos com que têm contribuído para o panorama das danças latinas.
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